sexta-feira, 6 de março de 2009

Mulheres Fortes

Mulheres Fortes
(Danuza Leão) 
 
Ah, como deve ser boa a vida das mulheres frágeis; elas sempre têm alguém que carregue os embrulhos, preencha o Imposto de Renda, troque o pneu do carro, e por aí vai.

  As fortes fazem tudo sozinhas, e são sempre chamadas nas horas do aperto: elas agüentam qualquer tranco, e são tão fortes que se metem até mesmo onde não são chamadas, para ajudar a resolver os problemas dos outros.
   Elas acreditam no personagem, veja só.
  É dura a vida das fortes, que não são poupadas de nada. Se alguém está com uma doença grave, é a elas que vão contar; se a namorada do sobrinho ficou grávida, são as primeiras a saber, e quando alguém da família é preso com uma trouxinha de maconha, são imediatamente chamadas para as providências de praxe... fora os problemas financeiros, é claro.

  Enquanto isso, os pais e mães desses jovens adoráveis estão tomando uma vodca na beira da piscina sem saber de nada... eles não agüentariam um choque desses e precisam ser poupados, porque são frágeis.
  Existe sempre alguém para cuidar dos frágeis, seja um parente, um amigo, até um vizinho, que bate na porta preocupado com o silêncio e para saber se ela está precisando de alguma coisa.

  Uma mulher frágil é mais frágil  que um recém-nascido, e como os homens adoram o papel de protetores para se sentirem fortes e poderosos, aí é a união perfeita da 'fome com a vontade de comer'.

  Quando elas ficam doentes, um verdadeiro exército é mobilizado; um leva revistas, o outro um embrulhinho com pêras, maçãs e uvas, e se ela não tem empregada não falta quem vá para a cozinha fazer uma canjinha.

  Preste atenção, que vai perceber que essas mulheres frágeis são indestrutíveis.
 
As fortes, na hora de uma crise de coluna, se arrastam até a geladeira para pegar um copo de água, e se alimentam o fim de semana inteiro com uma barra de chocolate, pois ninguém telefona para saber se precisam de alguma coisa.
  E elas, verdade seja dita, preferem morrer de inanição a pedir socorro, para não cair o tipo.

  Há uma pesquisa a ser feita: uma mulher frágil nasce frágil ou escolhe essa profissão para se dar bem na vida?

  Por que elas se dão bem, e sempre encontram um homem,  talvez ainda mais frágil  do que elas,  para cuidá-las, acarinhá-las   cuidar para que nada as atinja,  nunca?
 
  Afinal ela é tão frágil, coitadinha.

  Enquanto isso as fortes se acabam de trabalhar, e são elas que saem dos supermercados com pacotes de compras sem que ninguém se proponha a dar uma ajuda, mesmo que modesta.

  Somos todos estimulados a sermos fortes, mas boa vida mesmo levam as frágeis, daí a dúvida: não seria melhor  que as mães, os pais e os colégios ensinassem as crianças a serem frágeis, pois sempre haverá alguém para cuidar delas pela vida toda?

  E aliás, qual a vantagem de ser forte, além de saber que um dia alguém se referiu a ela dizendo "aquela é uma mulher forte"?
 
Um grande elogio, é verdade. Mas e daí?

  Toda mulher forte tem desejos secretos que não conta nem a seu travesseiro: que alguém, e não é preciso que seja um homem, faça um gesto por ela, de vez em quando. Nada de muito importante; apenas um cuidado, do tipo dizer que a está achando pálida, perguntar se tem se alimentado direito, pegar pelo braço e levar para tomar uma vitamina bem forte.

  Sabe qual é o sonho dourado de uma mulher forte?
Ter uma gripe com 38º de febre e poder ficar na cama. Mas para ela até ter uma gripe é difícil, pois uma mulher forte não adoece; e se isso acontecer, o mais difícil vai ser receber ajuda, pois uma mulher forte não deixa que ninguém faça nada por ela, mesmo precisando desesperadamente, para não passar por frágil.
  E é capaz de preferir se deixar morrer de tristeza, solidão e sofrimento a pedir socorro seja a quem for.
Como são frágeis, as fortes.

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