segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Namorofobia

Namorofobia
Danusa Leão


A praga da década são os namorofóbicos. Homens (e mulheres) estão cada vez mais arredios ao título de   namorado, mesmo que, na prática, namorem. Uma coisa muito estranha. Saem, fazem sexo, vão ao cinema,   freqüentam as respectivas casas, tudo numa freqüência de namorados, mas não admitem.
 
Têm alguns que até têm o cuidado de quebrar a constância só para não criar   jurisprudência, como se diria em juridiquês. Podem sair várias vezes numa semana, mas aí tem que dar uns  intervalos regulamentares, que é para não parecer namoro.

  - É tua namorada?
  - Não, a gente tá ficando.
  - Ficando aonde, cara pálida?

Negam o namoro até a morte, como se namoro fosse casamento, como se o título fizesse o monge, como se   namorar fosse outorgar um título de propriedade.
Devem  temer que ao chamar de namorada(o) a criatura se   transforme numa dominadora sádica, que vai arrastar a presa para o covil, fazer enxoval, comprar alianças,   apresentar para a parentada toda e falar de casamento - não vai. Não a menos que seja um(a) psicopata. Mais   pata que psico.

Namorar é leve, é bom, é gostoso. Se interessar pelo outro e ligar pra ver se está tudo bem pode não ser   cobrança, pode ser saudade, vontade de estar junto, de dividir. A coisa é tão grave e levada a extremos   que pode tudo, menos chamar de namorado. Pode viajar junto, dormir junto, até ir ao supermercado junto (há meses!), mas não se pode pronunciar a
palavra macabra:  NAMORO.

Antes, o problema era outro: CASAMENTO. Ui. Vá de retro! Cruz credo!
Desafasta. Agora é o namoro, que   deveria ser o test drive, a experiência, com toda a leveza do mundo. Daqui a pouco, o p roblema vai ser   qualquer tipo de relacionamento que possa durar mais que uma noite e significar um envolvimento maior que saber o nome.

  Do que o medo?

  Da responsabilidade?

  Da cobrança?

  De gostar?

Sempre que a gente se envolve com alguém tem que ter cuidado. Não é porque "a gente ta ficando" que não se   deve respeito, carinho, cuidado. Não é porque "a gente tá ficando" que você vai para cama num dia e no outro  finge que não conhece e isso não dói.
Não é porque "a gente tá ficando" que o outro passa ser mais um número no rol das experiências sexuais - e só.

  Ou é?
  Tô ficando velho?
  Se estiver, paciência.
  Comigo, só namorando...

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